12 dezembro 2017

Resenha | Não Me Abandone Jamais - Kazuo Ishiguro


Livro: Não Me Abandone Jamais
Série: Não
Gênero: Romance, Distopia
Autor: Kazuo Ishiguro
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 344
Ano: 2016
Sinopse: 
Kathy, Tommy e Ruth são clones criados para doar órgãos. Tendo esse cenário de ficção científica por pano de fundo, e o triângulo amoroso como gancho, Kazuo Ishiguro fala de perda, de solidão e da sensação que às vezes temos de já ser "tarde demais". Finalista do Man Booker Prize 2005.
Kathy H. tem 31 anos e está prestes a encerrar sua carreira de "cuidadora". Enquanto isso, ela relembra o tempo que passou em Hailsham, um internato inglês que dá grande ênfase às atividades artísticas e conta, entre várias outras amenidades, com bosques, um lago povoado de marrecos, uma horta e gramados impecavelmente aparados. No entanto esse internato idílico esconde uma terrível verdade: todos os "alunos" de Hailsham são clones, produzidos com a única finalidade de servir de peças de reposição.
Assim que atingirem a idade adulta, e depois de cumprido um período como cuidadores, todos terão o mesmo destino - doar seus órgãos até "concluir". Embora à primeira vista pareça pertencer ao terreno da ficção científica, o livro de Ishiguro lança mão desses "doadores", em tudo e por tudo idênticos a nós, para falar da existência. Pela voz ingênua e contida de Kathy, somos conduzidos até o terreno pantanoso da solidão e da desilusão onde, vez por outra, nos sentimos prestes a atolar.

Resenha:
Vocês que acompanham o blog sabe que não sou tão fã de livros desse gênero. Mas quando recebi o convite da editora para ler um dos livros do ganhador do Premio Nobel de Literatura de 2017, e por ter lido algumas resenhas muito positivas dele, resolvi aceitar ler e resenhar Não Me Abandone Jamais, mesmo estando bem fora da minha zona de conforto.

A principio confesso que achei a história um pouco maçante. Ele é narrado em primeira pessoa pela Kathy H., e já comentei varias vezes por aqui que prefiro livros em terceira pessoa. E ele não tem muito diálogos, visto que a história é basicamente as memórias da Kathy. E os diálogos das lembranças não tem travessão e sim aspas, o que torna a leitura mais difícil, pelo menos no meu ponto de vista.

Como não tinha lido a sinopse do livro, não sabia do que se tratava a história, por isso no começo fiquei um pouco perdida porque a narradora divaga bastante e até eu começar a entender onde ela estava querendo chegar, já havia se passado mais de cinquenta páginas da história. Mas não me deixei abater porque esse assunto "clones", é um que me interessa e eu li tantas resenhas recomendando o livro que insisti na leitura.

Kathy começa a contar como ela conheceu Tommy e Ruth, nossos outros protagonistas. Quando eles eram crianças aos seis, sete anos e não sabiam praticamente nada do que acontecia em sua volta. Eles vivem em Hailsham, onde eles tem regras e horas para tudo. A narrativa alterna entre o passado e o presente dos nossos personagens. No passado vemos a inocência de três crianças que não sabiam a o que estavam destinadas. Já no presente temos uma Kathy adulta que sabe bem o que a espera.

Existem livros que você lê e ele se torna apenas mais um, outros você lê e se emociona muito durante a leitura, as vezes até se acaba de chorar enquanto está lendo. Mas existem livros como esse, que mesmo depois que você fecha o livro e guarda ele na estante, ele fica martelando em sua cabeça, porque aborda um assunto que mexe e muito com a moral e a ética. Hoje em dia não se fala tanto sobre clones, mas lembro que alguns anos atrás quando foi anunciado a primeira clonagem, de uma ovelha, o assunto rendeu.

Agora imagine tantas pessoas que depois de anos na fila de doação esperando por um órgão, vem a óbito. E se essa espera não existisse mais? Se no momento que você precisar é só fazer a cirurgia? Será que a pessoa que está nessa situação e a família envolvida vai se questionar de onde esse órgão está vindo? Será que vão pensar por um minuto na questão de que os clones são ou não seres humanos? Ou vão preferir imaginar que eles não tem alma, por isso são descartáveis?

Essa é a questão abordada nesse livro, só que do ponto de vista dos clones. Como disse antes, no começo eles não sabem exatamente o que acontece, mesmo tendo uma certa desconfiança da verdade. Eles planejam o que serão quando cresceram, que profissão vão seguir, e no fim todos acabam da mesma maneira, depois de um tempo sendo cuidadores, eles passam a ser doadores até que seu corpo não aguente mais e eles acabem concluindo.

A história é triste não posso negar. É triste porque em nenhum momento a narradora se revolta contra o sistema que a colocou naquela situação. Ela só quer contar sua história, de como ela teve uma infância feliz, dos guardiões que ela respeitava e admirava, dos amigos que brigavam por qualquer bobagem, mas que eram mais unidos que irmãos. Enfim de como ela sonhou com uma vida diferente, mas que ela sabia que eram só sonhos mesmo. E ainda assim ela se esforçou para ser a melhor cuidadora que pode.

Num primeiro momento achei Kathy uma fraca, mas depois refletindo vi que ela foi uma das pessoas mais corajosas que já encontrei na ficção. Já Ruth, achei uma vaca, com o perdão da palavra, quem tem uma amiga assim não precisa de inimigos, e Tommy é um fofo com um coração de ouro. Não vou dizer muto sobre cada um deles porque quero que cada um tenha a sua impressão dos personagens.

Depois que terminei o livro corri para assistir o filme. O filme é bom. Tem poucas diferenças entre os dois. Mas achei que no filme faltou emoção. O livro é parado, mas o filme dá sono. Por ser narrado pela Kathy, o livro mostra muito mais profundidade do que o filme. O filme só supera na parte onde mostra as conclusões, já que no livro a Kathy só cita isso e no filme mostra a pessoa morrendo.

Quanto a edição do livro, está lindíssima. A capa é intrigante. E o miolo prateado ficou lindo. Só não dei nota máxima porque como disse antes, foge muito do que eu gosto de ler, por isso a nota foi mais gosto pessoal mesmo. Mas não posso deixar de reconhecer o quanto a história é boa e mexe com a gente. Por isso indico o livro com certeza.


Nota:


Kathy, Tommy e Ruth (cena do filme)




19 comentários:

  1. Oi, Sil.
    Eu nem sabia que existia um livro desse filme até recentemente, mas como pode perceber, vi o filme. Todo o ar da trama me parece ser melancólico, triste, com um inegável propósito: fazer crianças soarem como seres descartáveis, viverem em prol dos outros. Eu já não gostei por causa disso. Meu senso de justiça em relação aos direitos e deveres de cada ser humano me deixou irritada com a proposta do autor, mas assisti mesmo assim e terminei a obra amargurada, vazia e triste. Não posso dizer que ela não faz a gente pensar, porque ela faz sim, mas ela me deixou com um sentimento ruim no peito, e por isso eu nunca mais quero ver esse filme kkk agora que vi que tem um livro, dificilmente gostaria de ler.
    Beijos
    http://www.leitoraencantada.com/

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  2. Oi Sil
    Já tinha visto este livro por aí, mas não sabia do que se tratava. Achei super interessante e curioso o tema dele. Ainda que não me chame muita atenção fiquei com vontade de ler e assistir ao filme.

    Beijinhos
    https://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/

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  3. Oii Sil

    Ás vezes o filme não consegue transmitir nem a metade do que o livro traz. Eu te confesso que apesar de amar distopia, esse livro nunca me interessou, mesmo se tratando de uma obra do prêmio Nobel da literatura. Mas, pelo que vc conta, tem pontos bons, intrigantes, que trazem uma reflexão. Esse comecinho maçante que me deixa com o pé atrás, ando numa ressaca literária que qualquer coisa já to pensando em abandonar o livro. Esse acho que deixaria pra ler mais adiante, quando realmente estiver com animo renovado.

    Beijokas

    De repente, no último livro

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  4. Oi Sil! Não é o tipo de livro que eu costumo ler, mas a temática é inteligente, questionadora e pelo visto, bem trabalhada. Eu lembro quando teve o alvoroço por causas dos clones acho que é uma situação muito complicada de julgar. Bjos!!!

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  5. Oi!! Que história diferente, realmente nos tira da zona de conforto. Fiquei curiosa com esse tema clone, do enredo em si é o que chama a atenção. Vou procurar o filme também. Bjos <3

    Click Literário

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  6. quero muito leeeer! minha irmã comprou, já leu e eu só marcando bobeira ): quero muito ler Kazuo Ishiguro depois do nobel hahaha já vi o filme de Não me abandone jamais, minha irmã disse que várias coisas são diferentes (claro). Mal posso esperar para ler e tirar minhas conclusões, hehe!

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  7. Oi, Sil

    Eu ia morrer sem saber que havia uma adaptação desse livro! :o
    Que bom que você acabou curtindo apesar do começo um pouquinho difícil. Eu não sei o que pensar a respeito dessa coisa de clonagem, então acho super bem-vindo esse lado mais reflexivo da história. Eu até fiquei com vontade de ler,afinal, o autor ganhou um baita prêmio e isso não foi a toa, quase solicitei quando a editora ofereceu, mas não era um bom momento para uma leitura tão diferente do que eu costumo ler.
    Vamos ver se mais para frente o momento certo aparece. :D
    Adorei a resenha, deu pra ver realmente que o livro te fez pensar.

    Beijos
    - Tami
    http://www.meuepilogo.com

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  8. É ruim quando a história é meio maçante, ela cansa bastante.. e confesso que essa capa não me chamaria nada a atenção, mas que bom que apesar de tudo, você gostou um pouco :)

    www.vivendosentimentos.com.br

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  9. Oi Silvana, tudo bem?
    Não gosto quando usam aspas em diálogos, sempre demoro a pegar o ritmo em livros diagramados assim.
    Não conhecia a história e fiquei muito curiosa pela leitura, nunca tinha pensado em nada a respeito desse tema. Gostei muito da sua resenha, espero ter oportunidade de ler o livro um dia, ou quem sabe ver o filme.

    Obrigada pelo carinho. Volte sempre!
    Um super beijo :*
    Claris - Plasticodelic

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  10. Hello! Tudo bom?
    Não conhecia esse livro, e confesso que nunca li um de ficção científica assim tão profundo.
    Obrigada pelo comentário lá no meu blog.
    Volte sempre! ;*

    Bjo,
    miiistoquente~

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  11. Olá, Sil. Tudo bem?
    Ainda não tive oportunidade de ler este livro, mas já conferi a adaptação e acho linda/triste. Já gostei, pois citou que o livro possui mais profundidade, comparado ao filme.

    Até mais. https://realidadecaotica.blogspot.com.br

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  12. Oi Sil,
    Eu até hoje não assisti a adaptação porque queria ler o livro antes, é uma das minhas próximas leituras, mas já folheei e notei que é um pouco lerdinho sim. E gente, amiga vaca até no mundo dos clones sos. Espero gostar do autor.

    tenha uma ótima quarta =D
    Nana - Canto Cultzíneo

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  13. Oi Sil! Eu ainda não li, mas tenho curiosidade a princípio porque o autor ganhou um Nobel, né? Mas tb depois de ler algumas resenhas a curiosidade aumentou devido ao tema clones, achei bem interessante apesar do aspecto mais lento do livro.

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  14. Oi, Sil!
    Comecei a assistir o filme, mas não terminei! Agora estou com o livro em mãos e pretendo ler, apesar de assim como você também não faz muito o meu gênero de leitura, mas estou curiosa!
    A edição ficou linda, né? *-*

    Beijos,
    Eli - Leitura Entre Amigas
    http://www.leituraentreamigas.com.br/

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  15. Oi, Sil!
    Menina, eu fiquei chocada que tem uma adaptação e é com Andrew Garfield e agora que fiquei sabendo.
    Não sei se leria o livro justamente por causa desse bando de memória. E a premissa da história me lembrou muito o filme A Ilha.
    Beijos
    Balaio de Babados
    Participe do Natal Literário e ganhe prêmios maravilhosos

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  16. Oi Sil, quanto tempo que não comento no seu blog. Senti saudades!
    Esse livro parece ser muito enigmático, dá para perceber logo pela capa dele que é um dos trabalhos feitos por Leonardo da Vinci!
    Agora eu fiquei chocado que tenha uma adaptação do filme, ainda mais com o Andrew Garfield!

    Beijão, saudades do blog!
    Vinicius
    omeninoeolivro.blogspot.com

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  17. Oi Sil, tudo bom? ^-^
    Já tinha visto a capa desse livro pela blogosfera, mas nunca tinha me interessado o suficiente para saber sobre o que se tratava a história, e devo dizer que jamais achei que poderia ser sobre clones.
    Apesar de achar a temática interessante e extremamente original na literatura - pelo menos de acordo com os livros que eu conheço -, não é o meu tipo de livro, e infelizmente eu não acho que teria a disposição que você teve para iniciar uma leitura tão diferente do meu gosto \: .
    Ainda assim, tenho muita curiosidade em ler um outro título desse mesmo autor, "O Gigante Enterrado". Foi um livro bastante elogiado por alguns dos blogueiros literários que acompanho, além de ter um trabalho gráfico maravilhoso. Comecei a ler a amostra que a Amazon disponibiliza e devo dizer que o primeiro capítulo consegue prender a sua atenção. Agora to só na espera de uma promoção bacana pra poder comprar o meu exemplar e continuar a leitura.

    Um super beijo e um ótimo fim de semana! :*
    www.inconstantecontroversia.blogspot.com

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  18. Oi Sil!
    Eu recebi esse livro da CIA para resenhar também, embora seja para meu resenhista e nao especificamente para mim. Gosto de distopias, mas raramente pego livros mais densos assim para ler, porque ou eu empaco na leitura, ou abandono :(

    Abraços
    David
    http://territoriogeeknerd.blogspot.com.br/

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  19. Eu amo uma narrativa em primeira pessoa, também em terceira. Acho que meu unico lugar de desconforto literário é o tal do romance policial, mas não é nem com a narrativa policial meu problema. A parte isso, estou doida para ler esse livro por motivos de ter me emocionado imensamente com o filme. Chego a desejar não ter visto o filme para ser pega de surpresa.

    Jaci
    Pandora e Sua Caixa

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