Livro: Eu Vejo Kate - O Despertar De Um Assassino
Série: Eu Vejo Kate #1
Gênero: Suspense/Terror
Autora: Cláudia Lemes
Editora: Independente
Páginas: 336
Ano: 2019
"Eu vejo Kate. Ela não me vê."
Kate é uma escritora que está mergulhada nas pesquisas de seu novo projeto. Esse é seu terceiro livro, o primeiro não vendeu muito, mas foi bastante elogiado, já o segundo, fez bastante sucesso e esse é o seu primeiro de não ficção. Ela vai escrever uma biografia do serial Killer, Nathan Bardel. Ele é conhecido como "O Esfaqueador de Damas de Blessfield". Faz alguns meses que ele foi executado, depois de ter sido condenado pela morte de 12 mulheres. A intenção é publicar o livro no aniversário de um ano da morte dele. Kate acabou de sair de uma relação difícil, por isso está bem estressada e coloca toda a sua atenção nesse novo projeto, a ponto de decorar sua sala de estar com recortes das noticias dos crimes e as fotos da vitimas. Como eu sei de tudo isso? Nathan me contou.
Desde que Kate decidiu escrever sobre ele, uma ligação surgiu entre os dois. Apesar de estar morto, seu espírito, espectro, fantasma, escolha o que achar melhor, ainda está por aqui. E agora ele está vendo Kate e até transmitindo seus pensamentos à ela. Essa ligação está tão forte, que quando a editora que iria publicar o livro diz que ela pode esquecer esse projeto, que eles não vão publicá-lo, Kate não se conforma e continua escrevendo ele mesmo assim. Ela consegue uma entrevista com Ryan Owen, um ex-agente do FBI, que foi quem encontrou Nathan na época e que viu sua confissão. Ryan é um profiler especialista em montar o perfil das pessoas. Com apenas uma rápida olhada ele já consegue dizer muito sobre cada um. E Kate acaba se envolvendo com ele.
Para ir mais a fundo no projeto, ela vai até Blessfield, local onde ocorreu os crimes e que também é sua cidade natal e seus familiares ainda moram lá. Quando entra na casa onde Nathan viveu, ela chega a passar mal. Ela volta para seu apartamento e continua escrevendo o livro, mas parece que não é só a sua editora que quer que ela pare de escrever, a polícia também começa a fazer pressão para que o livro não saia. E ela recebe um pacote com uma ameaça dentro. Ela liga para Ryan e ele vem até o seu apartamento. E o que ninguém imaginava acontece, uma mulher é encontrada morta e a assinatura de Bardel está no corpo. Kate está no meio disso tudo, a polícia só não sabe ainda onde ela se encaixa, como vítima ou suspeita. E Ryan está de volta ao FBI como consultor para pegar o assassino.
"A mente do assassino está concentrada em Kate. Kate é a próxima, é tudo o que ele pensa.
E agora que eu sei quem ele é, eu sei que Kate não tem a menos chance.
Porque ela o conhece, e nem desconfia dele."
Esse mês o desafio #IDYMD é um livro nacional e como estou para reler esse livro da Cláudia Lemes faz tempo, encaixei ele na leitura. Minha primeira leitura do livro foi em 2015 quando recebi o livro em parceria com a Editora Empíreo e foi quando me surpreendi em encontrar um suspense policial de tão boa qualidade. Hoje com tantos nacionais fazendo sucesso na Amazon fica até esquisito falar isso, que me surpreendi com um livro nacional, mas antes dos ebooks da Amazon era bem dificil você ver resenhas e até mesmo ler livros nacionais contemporâneos. Essa minha segunda leitura foi feita em uma publicação independente da autora pelo Catarse, que tive o prazer de participar.
E que bom que reli porque me surpreendi ainda mais em como a autora é boa. Acredito que com o passar do tempo nós vamos ficando com um olhar mais crítico e coisas que antes não incomodavam acabam irritando e coisas que antes deixávamos passar despercebidas, acabam se tornando detalhes que fazem toda a diferença e mostram a qualidade de uma história. Mas o bom mesmo é quando relemos e reafirmamos como o livro foi bem escrito. E foi isso que aconteceu com essa releitura, vi detalhes que não percebi na primeira leitura e criticas sociais que a autora colocou que se mostram ainda mais necessárias hoje do que quando o livro foi escrito.
Mas já vou avisando que esse livro não é para qualquer um não. Eu mesmo não lembrava de como ele tem cenas fortes e com uma realidade nua e crua. A autora descreve em detalhes cenas de estupro, violências e assassinatos. Por isso passe longe se você tem o estômago fraco ou se já passou por alguma situação parecida, o livro contêm gatilhos emocionais. Teve algumas cenas que me deu até ânsia de tão fortes. E o pior é saber que isso acontece o tempo todo na vida real e por vezes ainda pior. Que existem homens desse tipo que acreditam piamente que as mulheres gostam desse tipo de situação. E que infelizmente existem outros ainda piores que julgam esses criminosos e declaram que foi "estupro culposo" e ainda ridicularizam a vitima.
O livro é narrado por três pontos de vistas, sendo um deles o de um fantasma. E essa foi uma das coisas que me surpreendeu na história. Nathan é um serial killer, ele torturou, estuprou e matou tantas mulheres e é muito interessante acompanhar o ponto de vista dele durante a leitura. Também temos a narrativa pela visão de Ryan, que é onde a parte mais investigativa é contada. E claro temos a visão de Kate, uma mulher bissexual, que se auto sabota ao procurar relacionamentos abusivos, tanto amoroso como as amizades. Mas ao mesmo tempo ela é a vitima que não quer ficar naquele papel e luta fortemente para sair dele. Kate é uma personagem imperfeita, mas tão real que poderia ser qualquer uma das muitas mulheres que conhecemos.
E apesar do tom de suspense e até mesmo de horror que vemos no livro, ele é acima de tudo um livro feminista. A autora mostra com perfeição situações que vivemos e as vezes nem percebemos por já ser algo enraizado dentro de nós, que estamos sim sendo vitimas do machismo que rege nossa sociedade. Até quando as pessoas vão se achar no direito de culpar a vitima, de encontrar desculpas para a violência e abusos dos homens. Não importa se é marido, companheiro, namorado, amigo, parente, não é não. Roupa não é convite. E nesse ponto sou exatamente como a Kate. Sonho com o dia em que ser mulher não seja sinônimo de sofrimento. Mas enfim, gostei muito da primeira leitura e ainda mais dessa segunda vez. E na primeira vez que li não existia um segundo livro. Já agora estou louca pela continuação.
Nota: