Livro: O Ódio Que Você Semeia
Série: Não
Gênero: Jovem Adulto
Autora: Angie Thomas
Editora: Galera Record
Páginas: 428
Ano: 2017
Sinopse:
Uma história juvenil repleta de choques de realidade. Um livro necessário em tempos tão cruéis e extremos.
Starr aprendeu com os pais, ainda muito nova, como uma pessoa negra deve se comportar na frente de um policial.
Não faça movimentos bruscos.
Deixe sempre as mãos à mostra.
Só fale quando te perguntarem algo.
Seja obediente.
Quando ela e seu amigo, Khalil, são parados por uma viatura, tudo o que Starr espera é que Khalil também conheça essas regras. Um movimento errado, uma suposição e os tiros disparam. De repente o amigo de infância da garota está no chão, coberto de sangue. Morto.
Em luto, indignada com a injustiça tão explícita que presenciou e vivendo em duas realidades tão distintas (durante o dia, estuda numa escola cara, com colegas brancos e muito ricos - no fim da aula, volta para seu bairro, periférico e negro, um gueto dominado pelas gangues e oprimido pela polícia), Starr precisa descobrir a sua voz. Precisa decidir o que fazer com o triste poder que recebeu ao ser a única testemunha de um crime que pode ter um desfecho tão injusto como seu início.
Acima de tudo Starr precisa fazer a coisa certa.
Angie Thomas, numa narrativa muito dinâmica, divertida, mas ainda assim, direta e firme, fala de racismo de uma forma nova para jovens leitores. Este é um livro que não se pode ignorar.
Resenha:
Acho dificil encontrar alguém que ainda não saiba alguma coisa sobre essa história, seja pelo livro ou pelo filme. Até por isso hoje a resenha não vai trazer aqueles parágrafos iniciais onde falo sobre o que se trata a história. E quem ainda não conhece, acho que a sinopse já diz o suficiente.
Eu já tinha vontade de ler esse livro desde que lançou, mas fui deixando para depois e acabei conhecendo a escrita da autora pelo livro Na Hora Da Virada, que foi um tapa na cara. Mas todos que leram os dois livros disseram que O ódio que você semeia era muito melhor que Na Hora Da virada, então minha vontade de ler ele só aumentou e enfim consegui encaixar o livro em um dos desafios que estou participando o #DesafioMulheresDaLiteratura que nesse mês de julho era ler um livro YA contemporâneo escrito por uma autora não branca.
E estou sem palavras para expressar tudo o que senti lendo esse livro. Revolta, indignação, raiva, impotência, vergonha. E ainda li o livro com a história real de George Floyd pairando na minha cabeça. Eu não conseguia desassociar a história real da fictícia. Porque foi essa a intenção da autora ao escrever o livro, mostrar quantos Khalil e George morrem o tempo todo pelo simples fato de serem negros. Não precisa de outro motivo. A cada manifestação no livro me vinha a mente o que assisti nos telejornais. Mas infelizmente ainda resta muito a se fazer para mudar esse tipo de situação.
Não basta pintar minha tela do Instagram de preto e no outro dia achar que é injusto existir cotas raciais na faculdade. Não adianta compartilhar postagens de apoio em uma rede social e no outro dia achar que vai ser assaltada só porque um cara negro chegou perto de você. Ou continuar fazendo todo tipo de "piadas" ou simplesmente rir de uma que algum amigo seu faça. Vamos admitir que somos sim racistas e preconceituosos porque já nascemos em uma sociedade onde acreditar que brancos valem mais é considerado normal. Enquanto continuarmos negando a existência do racismo para continuarmos confortáveis, ele nunca vai acabar.
E achei O ódio que você semeia um pouquinho melhor que Na hora da virada, e acredito que isso se deve a protagonista. Brianna de Na hora da virada é um pouco estourada e meio irritante em algumas situações, mas não de forma negativa. Já Starr é uma garota doce e gentil que vive lutando dentro de si por viver durante o dia duas realidades bem diferentes. Ela é a garota negra que mora no gueto mas que estuda em um colégio de brancos de classe alta e tem um namorado branco. Então ela mostra duas versões de si e chega em um momento que ela vai ter que escolher quem ela realmente é.
E uma coisa que chama muito a atenção nesse livro é que apesar de termos uma protagonista, a sensação que dá é que esse protagonismo não se restringe a uma pessoa e sim a uma família. Toda a família de Starr é fundamental para a história e qualquer um deles poderia estar narrando a mesma. E o mais interessante ainda é que eu poderia dizer que a família dela é perfeita, mas estaria usando a palavra erroneamente porque tudo ali é cheio de defeitos. É aquele nada está certo, mas tudo vai bem.
Outro personagem que gostei muito foi o Chris, namorado de Starr. Gostei de como ele foi muito importante para o crescimento da personagem e de como ele foi fundamental para ela entender essas duas Starr que viviam dentro dela. Agora um personagem que odiei foi a Hailey, que personificou o que citei acima, fez o papel do branco que "imagine eu não sou racista". Odiei mas sei que ela era necessária ali para fazer com que nós brancos enxerguemos as atitudes e palavras dela e possamos fazer diferente.
Enfim, o livro todo é um crescente de todos os sentimentos que citei antes. Vai dando um nervoso conforme o julgamento vai se aproximando e mesmo sabendo que não vai acontecer nada com o policial porque ele é branco, ainda fica aquela esperança de que a justiça não olhe para a cor da pele e seja feita. E gostei da forma como a autora escolheu finalizar a história. Mas enfim, se você ainda não leu esse livro não perca mais tempo e vá logo ler. Esse é mais um livro da autora que é necessário e que deveria ser obrigatório nas escolas.
"Esse é o problema. Nós deixamos as pessoas dizerem coisas, e elas dizem tanto que se torna uma coisa natural para elas e normal para nós. Qual é o sentido de ter voz se você vai ficar em silêncio nos momentos que não deveria?"
"Ás vezes, você pode fazer tudo certo, e mesmo assim as coisas dão errado. O importando é nunca parar de fazer o certo."
"Ter coragem não quer dizer que você não esteja com medo. Quer dizer que você segue em frente apesar de estar com medo."
Nota:
