Resenha | A dor do meu segredo - Robyn Gigl

Livro: A dor do meu segredo

Série: Não

Gênero: Thriller psicológico

Autora: Robyn Gigl

Editora: Trama
Páginas: 313
Ano: 2021

Resenha:

Quatro meses atrás, William E. Townsend Jr., foi encontrado morto a facadas em um motel decadente perto de Atlantic City. O caso ganhou uma enorme proporção já que o mesmo é filho único de um senador republicano do estado de Nova Jersey, e logo Sharise Barnes, uma prostituta negra de dezenove anos foi presa pelo crime. Sharise seria representada por um defensor público, mas sua irmã, com quem Sharise não tem contato há quatro anos, contratou Erin McCabe para defende-la, já que as duas tem algo muito forte em comum: as duas são mulheres transgêneros.

Mas apesar de ter feito a transição há pouco mais de dois anos, Erin ainda não se sente confortável com sua nova condição, já que praticamente quase todo mundo que ela conhecia lhe virou as costas, incluindo sua família. E ao defender Sharise, Erin sabe que vai virar alvo dos holofotes e sua vida privada vai ser revirada do avesso, mas ela sente que precisa assumir esse caso, que Sharise vai ter uma pequena chance tendo ao seu lado alguém que lhe entenda por estar nas mesmas condições que ela, e que é seu dever proteger Sharise de uma provável sentença de morte.

Sharise alega que matou o filho do senador em legítima defesa, já que ele a atacou com uma faca assim que descobriu que Sharise era trans. Mas quem vai acreditar na palavra de uma prostituta trans e negra, ainda mais que o senador está pressionando para que o caso seja finalizado o mais rápido possível? E quando Erin e seu sócio Duane começam a investigar, eles percebem que as coisas não aconteceram da forma que Sharise contou, e descobrem que esse crime pode ter ligação com outros assassinatos brutais. Mas como provar alguma coisa quando o senador está usando todo seu prestígio para desacreditá-los e qualquer pista que eles possam ter? Isso sem falar nas ameaças as suas próprias vidas. 

Esse é o segundo livro enviado pelo Trama Box, um Clube de Assinatura focado em Thrillers. Os livros irão variar entre quatro subgêneros do thriller e novamente nessa caixa temos o psychological thriller. Na caixa passada eu disse que não sabia se as especificações da edição seria padrão, mas pelo jeito serão sim. Gostei bastante dela. Na capa temos o símbolo do subgênero do livro, a primeira página de cada capitulo é na cor preta, temos elementos da história na contra guarda e na folha de rosto e o marcador vem grudado na orelha. O livro ainda vem protegido por uma luva personalizada. Dessa vez o brinde foi um moleskine personalizado. Mas o mais interessante de tudo é o que vamos encontrar na história propriamente dita.

A autora do livro Robyn Gigl, é uma mulher trans advogada, por isso ela fala com propriedade sobre dois dos assuntos abordados no livro, transfobia e desigualdade no sistema jurídico. E fora esses dois assuntos super relevantes e atuais, ainda temos uma abordagem sobre o racismo. Lendo uma entrevista com a autora vi que ela escreveu o livro depois de reler O Sol é para todos e veio a necessidade de querer mostrar o que se passava na cabeça do advogado protagonista do livro, já que o livro citado é narrado por uma criança, foi então que nasceu a Erin. Mas a autora faz questão de deixar claro que seu livro não é um romance LGBTQ+: é um thriller para todos. E é mesmo, já que todos têm o dever de tentar mudar essa visão deturpada de que negros, pobres, gays e tantos outros grupos minoritários merecem menos.

E assim como aconteceu com Flores da Morte, primeiro livro enviado pelo clube, eu me vi devorando o livro. Aqui não temos que descobrir quem é o assassino, mas isso não o deixa menos interessante porque a autora vai levantando várias questões ao longo do livro que deixa a gente de cabelo em pé e ávido por terminar ele e ter todas as respostas. Como temos a visão do outro lado, vamos acompanhar os passos do senador e sua equipe, o que resta saber é se Erin e Duane vão conseguir juntas as peças e salvar Sharise e ainda terminarem a história vivos, porque de uma parte do livro em diante, eles precisam jogar um jogo que não estão prontos para salvar suas próprias vidas.

E enquanto vamos acompanhando o desenrolar da história e torcendo para que tudo dê certo no final, a autora vai mostrando um pouco de como é a vida de uma pessoa trans, as dificuldades de alguém que só quis ser ela mesma. E quanto mais vamos lendo, mais vai crescendo a revolta por algo que infelizmente está enraizado dentro de cada um de nós. Porque mesmo não querendo ser, por vezes a gente acaba usando palavras, fazendo perguntas que ofende e magoa. Por isso que precisamos ler cada vez mais sobre o assunto, até que se torne algo natural dentro de cada um. E Erin ainda é uma pessoa trans branca e com recursos, agora imaginem Sharise sendo negra, pobre e colocada na rua pelos pais. E quantas não estão nessa mesma situação.

E ainda tem a questão da desigualdade no sistema jurídico. Recentemente eu vi uma entrevista com um juiz que dizia que a justiça infelizmente é injusta. Se um mesmo crime é cometido por um branco e por um negro, as sentenças serão diferentes, ai vai entrando os agravantes, se ela é pobre, se é gay, e por ai vai, a coisa só vai piorando. No livro isso é mostrado bem na pessoa do senador, do quanto às provas e as pessoas vão sendo manipuladas para que se chegue no resultado que interessa para eles. E apesar de não ter ficado totalmente satisfeita com o final do livro, não posso deixar de concordar que ele se aproxima e muito da realidade que vivemos. Mas enfim, vou parar por aqui indicando o livro, é claro. A autora foi impecável no que se propos. 

Nota: